SAIBA MAIS SOBRE OS TIPOS DE TECIDO MASCULINO E FEMININO PARA ALFAIATARIA
Breve história sobre a profissão de alfaiate
A profissão de alfaiate é uma das mais antigas da história. Na França, depois do período do renascimento, mais ou menos nos séculos XVI e XVII, o homem passou a se preocupar mais com sua apresentação pessoal, porque isso era um indicador do seu status social. Então, ele precisava cuidar do que ia vestir. Para vestir algo com um bom acabamento e caimento, além de tecido especial, era necessário ter um alfaiate, e isso era um luxo para poucos.
Naquela época, apenas as famílias reais tinham esse privilégio. O alfaiate cuidava de todo o processo de produção da roupa. Durante a confecção eram realizadas provas e mais provas a fim de que a vestimenta ficasse milimetricamente perfeita, afinal a corte representava as passarelas e tudo que a nobreza vestia era copiada no resto do mundo. Claro que aqui nós estamos falando especificamente da vestimenta dos homens, porque naquela época uma mulher usar qualquer roupa que não fosse uma saia ou um vestido era inadmissível.
Foi só na década de 20, depois da primeira guerra mundial, que os cortes retos dos paletós e das calças masculinas ganharam força total entre as mulheres e aqui nós não podemos deixar de maneira nenhuma de citar ela: Coco Chanel.
Foi nessa época que Coco Chanel teve sua ascensão como estilista no mundo todo. Uma das peças mais emblemáticas foi o tayer (o blazer e a calça). Tais itens só apareceram no guarda-roupas feminino quando as mulheres tiveram de entrar no mercado de trabalho para assumir o lugar dos homens (que estavam na guerra).
A partir daí as mulheres entraram em todos os setores da indústria, inclusive no de armas. Então, imagine usar um vestido com aquelas anáguas e com aquelas saias de armações. Não devia ser nada confortável para trabalhar, né? Muitas décadas depois, cá estamos nós, mulheres, andando elegantemente nos cortes da alfaiataria entre cores, modelos e combinações.
Como são os tipos de tecido de roupa de uma alfaiataria
Uma roupa de alfaiataria é uma peça estruturada, com cortes mais retos e ajustados e um caimento perfeito. E, para isso, os tecidos não poderiam ser diferentes, pois, uma peça estruturada precisa de um tecido estruturado e essa é a característica principal e em comum entre os tecidos que abordaremos a seguir.
Tipos de tecidos de uma alfaiataria:
Crepe alfaiataria
Para começar, vamos falar do tecido que é um dos mais utilizados na alfaiataria feminina, o crepe alfaiataria. Ele possui toda a versatilidade do crepe que conhecemos e, além disso, é um tecido encorpado, dá estrutura e tem elastano, sendo assim é bem confortável e tem o toque bem macio. Ele proporciona um ótimo acabamento, principalmente quando falamos dos cortes mais retos da alfaiataria.
Esse crepe pode ser utilizado na alfaiataria tradicional em peças com o tayer, blazer, vestidos de corte reto, em saias secretária e em alguns cortes de calça inclusive calças pantalona, pantacourt e a calça tradicional de corte reto.
O crepe alfaiataria, justamente por ser um tecido de fibra sintética, recebe muito bem o tingimento. Sendo assim, ele pode ser encontrado com facilidade numa infinidade de cores, o que facilita bastante a confecção de peças de alfaiataria. Isso porque você pode compor looks mais informais como, por exemplo, um blazer com uma calça jeans ou com um short jeans, enfim, peças que são formais em sua essência, mas que, quando jogadas no look que faz mais o street style ficam com esse ar informal.
Crepe de alfaiataria Berlim
E dentro da categoria do crepe alfaiataria nós temos ele, o crepe alfaiataria Berlim. Esse crepe é bem mais encorpado e possui uma textura mais saliente. Também pode ser usado nas roupas de alfaiataria feminina, mas um dos grandes diferenciais dele é justamente ser bem encorpado.
O crepe alfaiataria Berlim é uma opção para ser usada em trajes de alfaiataria masculinos, quando você quer um traje de uma cor mais diferenciada, por exemplo, cores quentes como rosê, azul bebê ou amarelo.
Os tecidos tradicionais da alfaoataria masculina normalmente não recebem esse tingimento. Eles ficam ali nas cores neutras azul, marinho, cinza e preto, porque são tecidos que tem bastante fibra natural na composição, o que não é o caso desse aqui. O crepe alfaiataria tem estrutura para isso. Ele fica lindo e tem toda uma infinidade de cores para você soltar sua criatividade na hora de criar os trajes diferenciados.
Lã fria
A lã fria é um clássico da alfaiataria. Esse tecido é utilizado somente na alfaiataria masculina e tem uma versatilidade enorme em relação ao clima, já que ele respira no calor e aquece no frio. Isso acontece porque o fio utilizado nessa lã fria é muito fino e isso unido ao fato de ser um fio cem por cento natural, faz com que ele mantenha a temperatura corporal.
Aqui entram as categorias de lã: super100, super120 e super150. Para entendermos o que cada uma significa, primeiro é importante entender a unidade de medida da espessura do fio da lã que se chama micra. Micra é o plural de mícron, cada mícron equivale a dividir um milímetro por mil. Para ficar mais claro, imagina comigo uma régua. Cada centímetro é dividido por milímetros, então imaginem dividir um milímetro desse por mil, isso equivale a um mícron.
A lã super120, por exemplo, utiliza o fio com 17,5 micras em média. Isso significa que cada fio de lã usado na tecelagem do tecido equivale a 0,017 milímetros, ou seja, em apenas um milímetro tem 58 minúsculos fiozinhos de lã.
Por ser uma unidade de medida muito pequena e que não é comum a gente usar no dia a dia, eu sei que pode ficar um pouco confuso, mas o importante é que você entenda que quanto maior o número, mais fina ela é, por isso, a lã super150 é mais fina que a lã super120. A lã super150 sempre vai ser mais leve, mais fina, mais cara e também a mais sensível.
Feita essa conta toda para vocês entenderem o motivo dessa categorização e desses nomes, a lã fria é um dos tecidos mais clássicos da alfaiataria masculina. A lã fria é um tecido utilizado até hoje pelos nomes que fizeram história na alfaiataria do mundo moderno como, Hugo Boss, Ermenegildo Zegna e Giorgio Armani. Usadas em ternos e paletós, a lã fria é um dos tecidos mais finos e elegante dessa categoria de roupas.
O caimento de uma lã fria, seja super100, super120 ou super150, é milimetricamente perfeito. A entretela usada nesse tipo de lã deve também ser costurada manualmente ou colada com uma resina específica. E vale lembrar que esse é o tipo de tecido que não pode ter nenhum contato com a água e deve sempre receber uma lavagem a seco, uma lavagem especial.
Fibra de bambu e Poliviscose
Embora sejam diferentes, esses dois tecidos têm em comum o processo de fabricação. A matéria-prima, viscose, é proveniente de polpa vegetal. Ela vem de alguns tipos de árvores como o eucalipto, por exemplo. Só que ela também pode ter a origem no bambu e quando isso acontece ela é chamada de fibra de bambu. Ou seja, apesar de passarem pelo mesmo processo de fabricação, a viscose e o bambu tem origens diferentes.
Um processo químico faz com que essas duas polpas vegetais virem uma fibra de celulose, de onde são produzidos os fios que mais tarde são transformados em tecido. A matéria-prima é batizada de viscose independentemente da origem. É por isso que normalmente a composição de um tecido de fibra de bambu vem como, por exemplo, poliéster com viscose. Nesse caso, significa que é uma viscose que tenham origem na fibra de bambu.
O tecido fibra de bambu é um dos tecidos mais clássicos e elegantes da alfaiataria. Ele pode ser usado em peças como tayer, blazer, calça, terno, vestidos de alfaiataria. Ele é um tecido que transpira, é fresco, tem o toque macio, além de ser muito confortável no corpo. Normalmente ele tem na composição o poliéster, que é o responsável por dar mais estrutura e também mais durabilidade para o tecido, e uma boa porcentagem de fibra, normalmente de vinte a trinta por cento de viscose.
Todas essas características unidas ao caimento digno de um corte reto fazem do tecido fibra de bambu um tecido de valor mais agregado. Se você quer uma peça de alfaiataria muito fina e elegante vale muito a pena o investimento.
O tecido poliviscose de alfaiataria é uma mistura de poliéster com viscose e, nesse caso, vem de uma viscose mais acessível. Além disso, a porcentagem de viscose é em média de oito a dez por cento, ou seja, bem menos que na fibra de bambu, que é normalmente de vinte a trinta por cento.
Em termos de caimento e estrutura isso não interfere em nada, o toque continua macio. É um tecido confortável e proporciona um acabamento maravilhoso nas peças de alfaiataria. Mas, o fato de ter menos fibras de viscose faz com que a poliviscose seja um pouco mais encorpada que a fibra de bambu e que, por consequência, seja um pouquinho mais quente, então é um tecido que retém mais calor.
Zibeline
O próximo tecido que abordaremos é o zibeline. Clássico na moda festa, pode e deve ser usado nas peças de alfaiataria, tanto masculina quanto feminina. Ele é um tecido para ser usado quando você quer uma peça mais ousada, tanto no quesito cores quanto na textura brilhosa que ele tem. Com o zibeline você pode soltar sua imaginação e criatividade para fazer ternos das mais diversas cores.
Além do zibeline tradicional, existe uma variação própria para alfaiataria que é o zibeline para alfaiataria. Ele recebe esse nome por causa da textura que tem as linhas diagonais, bem características do zibeline diagonal, o brilho e também da estrutura. O zibeline para alfaiataria é um tecido bem encorpado, bem mais encorpado que a poliviscose e que a fibra de bambu. Mas na prática ele pode ser usado para as mesmas peças, para os trajes masculinos e femininos.
Linho
Outro tecido que não poderia ficar de fora é o linho. O linho é um dos tecidos mais antigos do mundo e é clássico na alfaiataria. O linho entra na alfaiataria para ser usado em peças que você quer conforto térmico, ele é um tecido do verão. Pode ser usado nas peças mais tradicionais como um blazer, vestidos, calças de corte reto, e até em peças de alfaiataria mais modernas como shorts, conjuntinho de alfaiataria e calças pantalona ou pantacourt.
Na alfaiataria masculina o linho é o queridinho dos noivos que casam na praia, justamente porque ele é um tecido confortável, que não é quente e que tem esse aspecto de tecido natural, que é muito elegante e charmoso.
Spandex
A origem desse tecido surgiu nas roupas esportivas. Antigamente, os shorts de ciclismo, maiô de natação e qualquer roupa de prática de esporte que precisasse de bastante elasticidade era feito de borracha, literalmente, muito desconfortável como você pode imaginar. Tinha um manuseio difícil e causava muita reação alérgica em contato com a pele.
Com avanço tecnológico no mundo têxtil surgiu o spandex, que substituiu a borracha e até hoje é usado como matéria-prima principal nas roupas de compressão. É
claro que o spandex que nós usamos no vestuário é bem diferente do spandex usado nas roupas esportivas, mas foi daí que surgiu esse nome.
O spandex usado na alfaiataria é um tecido mais encorpado, de caimento estruturado e que sede bastante. Ele é um tecido bem queridinho pelas pessoas que gostam de ter uma boa porcentagem de elastano nas roupas para dar aquele conforto de mobilidade. Ele pode ser usado em todas as peças tradicionais de alfaiataria. Por ter esse conforto do elastano, é muito usado em uniformes de ambiente de trabalho.
Gabardine
Outro tecido muito famoso do mundo da alfaiataria é o gabardine. Diferente da maioria dos tecidos que nós não encontramos uma data específica de surgimento, o gabardine tem nome, sobrenome e ano.
Quem criou esse tecido foi Thomas Burberry em 1879. Ele é um dos maiores nomes da história da moda e o seu legado começou com os casacos impermeáveis que eram usados por exploradores para fazer expedições em lugares do mundo que até então não haviam sido explorados como, por exemplo, a Antártida.
O gabardine, originalmente, era um tecido feito ou somente de lã ou de uma mistura de lã com algodão. Ele era impermeabilizado antes de ir para o processo de tecelagem, além de ser entrelaçado muito fortemente para garantir uma estrutura e uma resistência no tecido. Até hoje esse é o gabardine original usado nos famosos e clássicos da marca Burberry.
O tecido que foi batizado por nós aqui no Brasil como gabardine, tem esse nome inspirado em toda a história do Burberry, mas é claro que tem características um pouco diferentes. O nosso gabardine é um tecido feito normalmente de poliéster como base e por isso é um tecido de toque um pouquinho mais seco e que retém bastante o calor.
As principais características do gabardine são estrutura e resistência. Então, ele também é um tecido muito usado no ambiente de trabalho, em uniformes. Ele pode ser usado em saia secretária, vestido tubinho, blazer e nas calças de alfaiataria.
Oxford
Esse também é um tecido muito utilizado na alfaiataria da moda executiva. Ele é estruturado, cem por cento sintético, retém mais calor e tem valor acessível, por isso é muito comum vermos ele como uniforme de ambiente de trabalho.
O tecido recebe esse nome porque ele surgiu na cidade de Oxford na Inglaterra. Era o tecido usado originalmente para fazer as camisas modelo oxford.
Oxfordine
Uma variação do oxford é o oxfordine. Ele é menos estruturado e bem mais leve que o oxford tradicional. O oxfordine é bem melhor para a linha de camisaria e não tanto de alfaiataria.
Microfibra
A microfibra também é um tecido de alfaiataria bem conhecido, que pode ser usado nas peças mais tradicionais como blazer, a calça, o vestido, a saia secretária, enfim, é um tecido que confere bastante estrutura.
Como o próprio nome diz, microfibra é um tecido feito de filamentos muito fininhos. Geralmente a composição é de poliéster com poliamida ou só de poliéster com uma porcentagem de elastano ou de viscose.
Tecido maquinetado
Tecido maquinetado é um tecido que tem um trabalhado na textura diretamente na trama. No momento da tecelagem, as máquinas levantam ou abaixam o fio criando um padrão de textura que nós chamamos de maquinetado. Essa é uma característica muito comum encontrada em tecidos de alfaiataria e pode ser encontrado em qualquer tecido.
Sempre que tiver o nome do tecido e o termo maquinetado significa que é um tecido que tem esse padrão de textura.
Falamos bastante do spandex, do gabardine e do oxford para a utilização de uniformes, mas isso é porque eles são tecidos de valor mais acessível e bastante resistentes por ser de fibra sintética na maioria das vezes. Só que isso não quer dizer que eles não podem ser usados nas peças de alfaiataria tradicional, de uso casual.
Agora, se você quiser mesmo uma peça fina e elegante, faça um investimento nos tecidos fibra de bambu, na lã fria, na poliviscose, no crepe alfaiataria, enfim, na opção que vai de acordo com o propósito que você tem para essa roupa.